sábado, 12 de setembro de 2015

Os mineiros e o galinheiro: a triste saga dos galináceos.

Todo mineiro que se preze conhece de perto um galinheiro. Sobretudo por nossa cultura interiorana (quase todos mineiros têm parentes no interior), sempre observamos o que ocorre no galinheiro desde criança. Observarmos com atenção o carcarejar desesperado dos habitantes do galinheiro atrás do milho após um “prutititititititi” ecoado por nossas avós que, desde a infância, nos ensinaram qual o destino dos galináceos que ali habitam no domingão mineiro: a panela!
E como raposas, devoramos sem piedade aquelas aves carcarejantes indefesas e frágeis desde sempre. Triste vida a dos carcarejantes. São criados para o abate. Não tem força para resistirem à sua condenação fatal. Servir de alimento ao povo de Minas Gerais.
No plano futebolístico, a panela dos domingos tem outro nome. E é de pressão. Lá, cozinhamos os galináceos corriqueiramente, os fazemos carcarejarem de pavor, pois não hesitamos em destruir até mesmo o centenário galináceo. Nós temos fome de galináceos. Mas apenas no plano local, nos gramados de Minas Gerais. Em outros planos, nacionais e internacionais, nosso cardápio é bem mais variado, incluindo porcos, peixes e demais carnes típicas do continente por exemplo, e assim deixamos os famigeradas galináceos apenas para serem devoradas no nosso quintal, já que, desprovidos de asas que lhes possibilitem voos maiores, este é o limite que eles alcançam. Os galináceos estão condenadas eternamente a não poderem ultrapassar os limites de nossos quintais.
Por vezes, os galináceos escapam da faca no pescoço preparadas por nossas avós. Por vezes, fogem para o quintal do vizinho desesperados, mas cientes de que, se não caírem indefesos no bafo da raposa, outros predadores já estarão dispostos a se fartarem de carne de sua carne, inclusive, com fortes rajadas. Muitos cacarejantes reunidos sonham em se sentirem mais fortes. Para nós, isto se traduz em nada mais, nada menos, que uma granja. Por mais que tentem, estas aves não podem fugir do seu cravado destino existencial: servir de alimento para os seus predadores.
Ovípara, bípede, galinácea, cacarejante e com um cérebro que faz jus ao argumento daqueles que ainda insistem em acreditar que o destino destas aves neste mundo pode ser diferente. Pois quem partilha a tradição mineira sabe muito bem que, aos domingos, é dia de galináceos na panela.
Parabéns Mineirão, há 50 anos nosso caldeirão predileto para fazer aquilo que aprendemos desde a infância com nossas avós: decapitar, depenar, cozinhar e devorar galináceos. E ainda jogar os ossos para os cachorros. Que destino, nada sobra destas aves!

Cruzeirão do Povão.
Geovano Chaves
Setembro de 2015.


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