sábado, 19 de setembro de 2015

Desmascarando os argumentos grotescos e infundados de Fred Melo Paiva em texto publicado no portal superesportes no dia 17/09/2015.

1 – É com muito pesar que notamos uma parte da mídia esportiva mineira não questionar sua orientação e sentido ético ao abrir espaço para um cidadão que teve a capacidade de desejar câncer no reto para um outro ser humano. Pior: depois vem este mesmo cidadão pagando de humanista, querendo transmitir uma ideia de que compactua a exaltar origens populares de algo, mesmo que já desmascaradas. Contraditório e mesquinho defender a integração das classes em preto e branco em um fim de semana e no meio de semana desejar câncer para uma pessoa. Mal sabe ele que na terceira maior torcida de Minas existem muitas pessoas que sofrem de câncer, imaginem o que estas pessoas sentiram ao ler o que este cara escreveu? Demagogia, eis o que este cara produz! Lamentável, bisonho, ridículo! Nem pela ótica de ver a far5a ruir pode-se esperar entender este cara que foi capaz de canalizar seu ódio desrespeitando famílias que sofrem desta enfermidade terrível! Grotesco!
Pior é tentar entender como um jornal de grande circulação em Minas Gerais pode abrir espaço para um sujeito capaz de disseminar tal conteúdo argumentativo. Lamentável. 

2 - Kalil disse certa vez que queria destruir o Cruzeiro. Entendemos o ódio, mas não é com ele que o Cruzeiro reagiu a uma declaração tão malfadada. O maior clube de Minas se tornou neste interim tetra campeão brasileiro de lá pra cá, e no mais, esvaziou o discurso que os atleticanos mineiros se refugiaram durante décadas de sofrimento e dor futebolística: “nós não gostamos de títulos, e sim de torcida”. E que torcida é essa que os atleticanos de Minas gostam hein, além de colocar 10 mil pessoas no caixotinho do Horto com o time na vice-liderança, agora terão que suportar para sempre que além de serem os terceiros em tamanho no Estado, o passado lhes condena a uma situação vergonhosa. Quem diria hein, a ma55a inventada pela mídia é uma far5a, o terceiro clube em torcida em Minas tem origem elitista, já não bastou a vergonha do presente, o passado do Atlhetico Futebol Clube também é ridículo! O time dos aristocratas da cidade ainda se fundiu com outro, o Hygiênicos, em 1916! Que bisonho!

3 – Dizer que a torcida do Cruzeiro canta uma música apenas no estádio é no mínimo aberrante, já que a própria terceira maior torcida de Minas, atrás de Cruzeiro e Flamengo, já copiou, recentemente inclusive, várias músicas da maior do Estado. “Uma cerveja por favor”, no ano do tri-campeonato brasileiro, chegou a extrapolar o ridículo. Devem ter feito isso por não suportarem mais cantar a única música que sempre tiveram: o hino, que para piorar, sempre morre no meio, nunca chegam ao final da letra, não tem fôlego para isso. E quando tem, são abafados. Ou seria vergonha de dizer “campeões do gelo”, e por isso só cantam 30% do hino antes que ele suma na arquibancada? Somos uma das torcidas mais criativas do Brasil, temos músicas lindas e reconhecidas por todo o país, entende-se a inveja e o rancor.

4 – Todos sabemos que, durante décadas, iludidos por parte da imprensa deste Estado, atleticanos mineiros acreditaram em uma far5a. Pesquisas históricas sérias, feitas com embasamento teórico, destruíram a far5a. Aí reside o desespero. As pesquisas que comprovaram ser o Cruzeiro o time de origens populares em Minas Gerais retiraram dos atleticanos mineiros o único argumento inventado que lhes restavam. Quem não se lembra do “não gostamos de títulos, gostamos de torcida”? E agora que são reconhecidamente uma torcida de origem elitista, o que lhes resta dizer? O Palestra registrou oficialmente um jogador negro, Bento, em 1926, 5 anos após a sua fundação. O Palestra nunca proibiu negros. Ele a princípio se concentrou na colônia italiana que buscava identidade em outro país, pois a princípio foi marginalizada. E o que se conclui sobre isso? Simples, um é de origem elitista, outro popular! Consta nos autos da história! Que duro golpe para os atleticanos mineiros, faltou areia na ma55a, e o castelo ruiu. Acabou a farsa para vo6, time de origens elitistas! E um abraço em nome do Bento!

5 - O Mangabeiras é 6a1o e a Serra também? Tenho minhas dúvidas quanto a isso, mas de outras não tenho: Faz sentido ser assim, uma vez que só existem atleticanos mineiros praticamente no interior da Avenida do Contorno, lugar que lhes foi destinado pelos estudantes playboys de 1908. O negro, recém abolido como o infeliz blogueiro sugeriu, vivia fora deste contorno elitista, na região metropolitana e periferia, reduto da maior parte da torcida do Cruzeiro, desde sempre, time do povo. Imigrantes pobres e população da periferia: nossas origens. Estudantes playboys filhos da elite do interior da Avenida do Contorno: as origens deles. E quem vive em BH há décadas sabe o tanto que esta verdade que veio à tona tem lhes machucado, pois os esvazia como aquele 6a1o de borracha murcho arrasado no chão após cair de divisão. Que imagem inesquecível!

6 - Em campo, na peleja futebolística, em Minas Gerais temos um clube gigante e outro mediano. Daí reside o argumento deste cidadão de querer dizer que “o sonho do rival é torcer para meu time”. Nada mais ultrapassado. Inocente até. Qualquer boçal usa isto para tentar desmerecer um rival. Isto é um atestado de inferioridade futebolística, de quem sabe seu tamanho e seu lugar diante do rival e necessita deste tipo de escapismo. Embora não descarte a fantasia, a de qualidade, não esta que os atleticanos mineiros necessitam para escapar de sua pequenez diante do Cruzeiro, neste caso específico necessitamos recorrer a realidade concreta da vida. 

Cruzeirão do Povão!
Geovano Chaves
Setembro de 2015.




O Cruzeiro e o povo: histórias de uma nação!

A primeira partida realizada oficialmente pelo Cruzeiro aconteceu no dia 03 de abril de 1921, contra um combinado de Palmeiras e Villa Nova. O então Palestra Itália venceu por 2 a 0 no antigo estádio localizado no bairro do Prado. No entanto, o que chamou a atenção, não foi apenas o placar da vitória na estreia: o estádio tinha capacidade para 1500 pessoas, e o público que pagou ingresso e compareceu naquele domingo foi de exatamente 1500 presentes. Começava o Cruzeiro a formar uma identidade e marcar seu espaço como clube do povo de Minas Gerais.
Os jogos do então Palestra Itália sempre atraíam grandes públicos, uma vez que além dos imigrantes e seus descendentes, o clube chamou a atenção das camadas mais humildes, que com ele se identificava devido as origens e caráter aristocrata de outros clubes da capital. Nascia assim uma empatia entre o povo da cidade de Belo Horizonte, sobretudo os moradores da periferia da capital, com o clube da classe trabalhadora. Em algumas décadas, o Cruzeiro se tornaria o clube mais amado por todas as classes, admirado por todo o estrato social sobretudo pela história que construiu, extrapolando inclusive os limites de Minas Gerais e do Brasil e sobrevivendo a uma Guerra Mundial.
E este povo passou a ter por este clube uma devoção. Isto incomodava as elites dirigentes da cidade, uma vez que italianos eram mal vistos na capital por serem pobres e terem fortes ligações com o movimento anarquista. Visando melhores condições de vida, numerosas e significativas greves operárias foram organizadas por estes imigrantes, e estas também fizeram com que eles ganhassem a admiração das camadas mais pobres da cidade, que entre outras coisas, se solidarizava com os imigrantes por questões sociais. Por outro lado, estas atitudes dos imigrantes e da população mais carente eram mal vistas pela elite dirigente da capital mineira.
O mundo vivia o período entre duas guerras mundiais. Getúlio Vargas, ditador e simpático as ideias fascistas, tinha como intenção, por meio de uma política populista, controlar os trabalhadores brasileiros. Vargas mandou fechar sindicatos e partidos políticos, sendo que a maioria destes sindicatos haviam sido fundados por imigrantes italianos. Não demorou e estas medidas influenciaram no futebol.
Havia na cidade um clube que atraía a paixão destas camadas mais pobres. Isto causava preocupação nas autoridades. Vargas, antes amigo de Mussolini e Hitler, simplesmente “vira folha” em plena II Guerra Mundial e decide entrar em guerra contra o Eixo. O presidente baixou um decreto-lei que proibia a existência de qualquer referência a nacionalidade italiana. Mesmo com a camada italiana e descendente sendo parte considerável da cidade, tudo levava a crer que seria o fim do clube do povo. No entanto, o Palestra Mineiro já havia deixado de ser um clube apenas identificado com a colônia italiana há décadas. O Palestra já havia ganhado a admiração da população periférica da cidade.

A II Guerra Mundial ocorreu entre os anos de 1939 e 1945, e neste intervalo, o Cruzeiro se consagrou campeão da cidade em 1940, 1943, 1944 e 1945. Enquanto tentavam acabar com o Palestra, o clube levantava taças. Isto se tornou uma sina em sua história. Entretanto, a sede do Palestra e as casas de seus torcedores foram apedrejadas, torcedores foram reprimidos e perseguidos na capital mineira. Queriam de todas as formas destruir o Palestra. Além da xenofobia, havia a inveja. A solução encontrada para a fuga da repressão do governo e para a sobrevivência foi a mudança de nome. O Palestra Mineiro se metamorfoseou em Cruzeiro. Surgia ali uma das maiores identidades e sintonias entre um clube e uma torcida já vistas no planeta. O Cruzeiro foi e será eternamente carregado nos braços deste povo.
Mas no futebol, na peleja dos gramados, nem tudo foram glórias. Mesmo tendo se tornado um gigante das Américas, o Cruzeiro também viveu momentos difíceis em sua trajetória. Em contrapartida, foram justamente em momentos difíceis que a torcida pôde mostrar sua grande devoção.
Fazendo um recorte no tempo, vamos rememorar três momentos difíceis. O final da década de 40 e a década de 50 foi uma fase terrível no futebol estrelado. O Cruzeiro conquistou apenas os mineiros de 1956 e 1959. Belo Horizonte nesta época recebeu milhares de migrantes oriundos das cidades do interior de Minas, que vieram trabalhar nas indústrias da capital, na então “Cidade Industrial”, obras estas estimuladas pelo governo Juscelino Kubitscheck, inclusive, grande cruzeirense. 

Esta nova leva de operários tinham no futebol uma grande forma de diversão. Milhares deles, mesmo sem as conquistas, se identificaram com o Cruzeiro. O clube voltou a vencer. Levantou um tri e um penta mineiro na década de 60. Ganhou pela primeira vez o campeonato brasileiro, tudo isto em sintonia com o surgimento do Mineirão. E o resultado disso em termos populares? Pela primeira vez na história dos campeonatos brasileiros, um clube de Minas Gerais conseguia as maiores médias de público do Brasil nos anos de 1966 e 1969. 
Após esta façanha, o Cruzeiro viveu outro período dramático. Entre os anos de 1978 e 1990, vieram três minguados campeonatos mineiros. Se a torcida do Cruzeiro fosse apenas alimentada por títulos, certamente teria desaparecido neste período. Mas o efeito foi o contrário. Atravessando praticamente toda a década de 80 sofrendo com o time, na década de 90 a torcida do Cruzeiro mostrou novamente sua devoção alucinada: na supercopa de 1992, a média de público da torcida do Cruzeiro chegou a 73.126 torcedores por jogo, a maior média de público do mundo na época. Que fenômeno, como explicar tal paixão? E no embalo, no mesmo passo, em 1997 esta torcida colocou mais de 150 mil pessoas no Mineirão, mais de 20 mil do lado de fora simplesmente porque não conseguiram entrar!

Apenas mais um recorte e logo após uma reflexão: em 2011, o que a torcida do Cruzeiro fez na Arena do Jacaré, para salvar o time da degola, foi digno de uma das maiores humilhações sofridas por um rival na história do futebol que se converteu naqueles monstruosos 6 a 1 eternos. A torcida salvou o clube nos braços, empurrou o clube na beira do precipício e nos livramos de uma das maiores humilhações para os gigantes do futebol que é cair de divisão aplicando uma das maiores humilhações em nosso rival local no grito da torcida.
A história da torcida do Cruzeiro reserva estes momentos que se tornaram iluminados pelos feitos da própria torcida, mesmo quando o elenco de jogadores não fez jus a camisa mais linda do mundo. Esta torcida moveu o time para se tornar um dos maiores do continente, atravessou oceanos, trabalhou em obras, superou perseguições, sobrepujou Guerra Mundial, resistiu a escassez de vitórias e se tornou a síntese da população de um Estado, multiétnica, com pessoas de todas as classes unidas em prol de um único comum: viver este clube que é um fenômeno da natureza, uma explosão azul suprema que atravessa a história e explode no brilho de uma constelação estampada nos céus da América do Sul.
A história do Cruzeiro se resplandece em um clube envolto a uma paixão que atravessou continentes e guerras. O Cruzeiro é uma entidade comandada por milhões.
Incrível, viramos milhões! 8 milhões que ostentam uma farda azul e branca! Imaginaram isto os imigrantes que trabalharam erguendo a cidade de Belo Horizonte no início do século? Ou aqueles que tentaram destruir o Palestra na década de 40?
A torcida do Cruzeiro é um muro de concreto, ruim de derrubar. É só olhar para a história...
Cruzeiro, o time do povo!

Geovano Chaves

Setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cruzeiro, o clube do povo de Minas Gerais!

Das origens a formação do Império.

O Cruzeiro foi fundado pelo povo que, por sua vez, construiu a cidade de Belo Horizonte, nos braços e no suor. O Cruzeiro levou o nome de Belo Horizonte para o mundo. O Cruzeiro é a cara multiétnica de todo um Estado que é a síntese de um país. O Cruzeiro é um povo.

Tudo se iniciou no fim do século XIX e início do XX, quando milhões de imigrantes muito pobres vieram trabalhar no Brasil fugindo das condições de vida precárias e miseráveis que afligia a Europa nos antecedentes da I Guerra Mundial. Muitos destes imigrantes, na sua grande maioria italianos, se instalaram na capital mineira. Eles vieram atraídos pela Comissão Construtora da Nova Capital, sob a liderança do Engenheiro Francisco Bicalho, que impulsionou a vinda destes imigrantes, a partir de 1895. A construção da cidade demandou um exército de operários para a edificação da infraestrutura e dos edifícios públicos e a imigração foi o recurso utilizado por Bicalho para sanar o problema da mão de obra. Uma hospedaria de imigrantes foi erguida às margens do ribeirão Arrudas para receber os trabalhadores. 
Estes imigrantes foram a principal mão de obra que, em conjunto com os ex-escravos recém abolidos, trabalharam pesado na construção civil e levantaram uma das maiores metrópoles brasileiras. Os então futuros atletas e torcedores do Palestra Itália construíram a cidade onde talvez nunca imaginaram que, mais de um século depois, seriam dela, ao menos no plano futebolístico, os detentores da maioria dos corações belo-horizontinos e mineiros.
Este fato é tão impactante que gerou a seguinte situação: se tratando de amor, o maior concorrente destes corações azuis em Minas Gerais não se traduziu em outro clube de futebol, e sim em uma religião. É o cristianismo nosso maior rival, que disputa conosco os corações, pois este, sem dúvida, é também muito popular em Minas Gerais desde sempre. No entanto, ao nosso lado temos o fato de que, para muitos, estas duas devoções podem ser conciliadas. Tivesse o Cruzeiro que rivalizar os corações e paixões com o cristianismo, teríamos aí sim talvez um rival à altura.


O futebol, a princípio, era um esporte voltado para a diversão das elites, pois é um entretenimento que surgiu por meio desta classe social. O futebol não atingia a princípio a classe pobre e trabalhadora. Em Belo Horizonte, inclusive para se diferenciarem da então “ralé carcamana” da cidade, já existiam alguns “Scratchs”, como eram chamados os clubes de futebol. Um destes clubes, que hoje é conhecido dentro da Avenida do Contorno, foi fundado por estudantes ricos de Belo Horizonte, que tinham como intenção praticarem um esporte que os “diferenciava” dos pobres. A maioria esmagadora da população de Belo Horizonte era analfabeta, e estes estudantes tinham um enorme preconceito contra a “ralé carcamana” que se instalou na periferia da capital, local este onde habitavam os imigrantes pobres. Mal sabiam estes distintos estudantes que, com estas atitudes elitistas, estariam eles criando o maior pesadelo para seus descendentes.
Mas com o decorrer dos anos, o futebol começou a se popularizar. Esporte barato e que podia reunir dezenas de pessoas se divertindo ao mesmo tempo. Com a popularização do futebol, os imigrantes pobres se viram no direito de também participarem do esporte bretão.
Neste sentido, o clube Yale (extinto na década de 20) e o Palestra Itália se tornaram clubes exclusivos para os imigrantes, mas não era necessariamente proibido para negros (como membros da imprensa de penas arrotam), e sim para qualquer outra pessoa que não fosse da colônia italiana, que era uma resposta dos imigrantes pobres a elite da cidade. Por conta disso, a popularidade do Palestra cresceu, o clube ganhou a admiração de toda a cidade pelo seu desempenho em campo, e logo foi liberada a participação de todas as nacionalidades no clube. O primeiro atleta de futebol negro registrado e documentado na antiga FMF foi Bento, em 1926, jogador palestrino. O Palestra Itália se tornou multiétnico, nascia ali as bases da maior, mais popular e mais historicamente incrível torcida de Minas Gerais.


Enquanto a maioria esmagadora dos jogadores do Palestra eram analfabetos e pobres, jogadores de outros clubes pertenciam a famílias ricas da cidade. O Palestra lhes assombrava. Logo na sua segunda partida, o Palestra emplacou logo um 3 x 0 no clube da que hoje é conhecido apenas no interior da Avenida do Contorno. Foi uma espécie de povo x playboys este jogo. Este fato contribuiu para que o Palestra se tornasse o clube mais popular de BH, que inclusive ganhou o apoio da maioria dos habitantes da cidade até a década de 40, quando o ditador Vargas e a política da II Guerra fez com que imigrantes fossem perseguidos no Brasil. Não apenas forçaram o Palestra a mudar de nome. Tentaram destruir o Palestra. Apedrejaram sua sede, perseguiram seus torcedores. Hoje, tentam transformar a mudança de nome de Palestra para Cruzeiro como algo pejorativo. É porque tentaram durante décadas esconder esta história. Mas como é marca da trajetória deste clube, as voltas por cima são sempre bem dadas.
Durante a II Guerra Mundial, o Palestra viveu um dos seus momentos mais difíceis, mas como era destino deste clube imperar sobre este Estado, os palestrinos resistiram, a torcida segurou a “bronca” e assim estes torcedores ultrapassaram as décadas de 40 e 50 na raça e, nos anos 60, após tudo que o Palestra viveu para se tornar Cruzeiro, chegava a hora dos deuses do futebol brindarem esta torcida com o maior esquadrão futebolístico que o Estado de Minas Gerais já presenciou. Os tostões que os antigos imigrantes vieram buscar trabalhando na construção civil da cidade não vieram no formato moeda como eles esperavam, e sim no formato jogador de futebol. Minas Gerais estava tomada de vez e marcada para sempre com o segundo ser que levou o seu nome a ser conhecido no Mundo todo depois do barroco Aleijadinho. Após o Cruzeiro, outros conseguiram esta façanha, como Sepultura e João Guimarães Rosa, por exemplo. Mas no futebol, apenas um fez isso. Quanto orgulho, porque foi na raça, o Palestra sobreviveu a guerra e se tornou Cruzeiro, o clube do povo.

Com a inauguração do Mineirão, já na era Cruzeiro, a popularidade do clube aumentou de forma assustadora, “esta torcida cresce tanto que mais parece uma China Azul”, disse um torcedor de um clube regional à época. Cruzeiro e Mineirão formaram uma simbiose, é possível sentir o cheiro do bafo da Raposa caminhando em seus entornos. O Mineirão foi feito por operários para ser a casa dos operários que fundaram aquele que levaria o nome do Estádio para o mundo.
O Cruzeiro surgiu em Belo Horizonte que por sua vez é uma cidade formada por migrantes e imigrantes. O amor pelo Cruzeiro se espalhou como suas estrelas no céu pelas terras de Minas Gerais, surgiu uma constelação de loucos alucinados que empurraram o clube para se tornar uma das maiores potências futebolísticas do continente e planeta. As décadas seguintes cravaram o nome Cruzeiro na história do futebol mundial.
A torcida do Cruzeiro ama o que ela é e o que ela conquistou. Amamos nossos títulos e temos sede de novos. Em tempos de guerra, sobrevivemos. Em tempos de escassez de títulos, como a década de 80, respondemos a penúria de conquistas com a maior média de público do mundo em uma copa na década de 90. Nesta mesma década, pudemos vivenciar uma invasão popular a nossa casa com mais de 160 mil pessoas dentro e nas imediações do estádio. Uma aglomeração humana espetacular. Estava ali o povo. Nem os Inconfidentes conseguiram façanha semelhante. Isto é a prova absoluta do que as centenas de operários do início do século transformaram em 8 milhões de pessoas na atualidade. O Cruzeiro nunca se resumiu a um clube de futebol. O Cruzeiro, na verdade, é a história da formação de um povo que gira em torno deste clube. O Cruzeiro foi feito para o povo e cada elemento deste povo leva o Cruzeiro nos braços como os imigrantes que fundaram o clube levavam os tijolos que construíram a cidade que o Cruzeiro reinaria. A sabedoria deste povo não engana, o Cruzeiro é um muro de concreto, ruim de derrubar. Até tentaram, inclusive sob guerra. Mas aí está o Cruzeiro, a maior instituição futebolística de Minas Gerais graças a força de um povo.
Saudações a todos corações do mundo que unidos formam uma constelação em forma de clube de futebol que espelham 5 estrelas no peito e no céu ao mesmo tempo.
Cruzeiro, tua estória é tão bonita, faz parte de nossas vidas, para os nossos filhos nós vamos contar. Cruzeiro, tu és nossas vidas, nosso orgulho, nossa alegria, e nada pode descrever, o sincero e imenso amor que sentimos por você!
Em torno destas 5 estrelas e desta camisa azul, nós orbitamos.
Cruzeiro, clube do povo de Minas Gerais.

Geovano Chaves
Setembro de 2015.


sábado, 12 de setembro de 2015

Os mineiros e o galinheiro: a triste saga dos galináceos.

Todo mineiro que se preze conhece de perto um galinheiro. Sobretudo por nossa cultura interiorana (quase todos mineiros têm parentes no interior), sempre observamos o que ocorre no galinheiro desde criança. Observarmos com atenção o carcarejar desesperado dos habitantes do galinheiro atrás do milho após um “prutititititititi” ecoado por nossas avós que, desde a infância, nos ensinaram qual o destino dos galináceos que ali habitam no domingão mineiro: a panela!
E como raposas, devoramos sem piedade aquelas aves carcarejantes indefesas e frágeis desde sempre. Triste vida a dos carcarejantes. São criados para o abate. Não tem força para resistirem à sua condenação fatal. Servir de alimento ao povo de Minas Gerais.
No plano futebolístico, a panela dos domingos tem outro nome. E é de pressão. Lá, cozinhamos os galináceos corriqueiramente, os fazemos carcarejarem de pavor, pois não hesitamos em destruir até mesmo o centenário galináceo. Nós temos fome de galináceos. Mas apenas no plano local, nos gramados de Minas Gerais. Em outros planos, nacionais e internacionais, nosso cardápio é bem mais variado, incluindo porcos, peixes e demais carnes típicas do continente por exemplo, e assim deixamos os famigeradas galináceos apenas para serem devoradas no nosso quintal, já que, desprovidos de asas que lhes possibilitem voos maiores, este é o limite que eles alcançam. Os galináceos estão condenadas eternamente a não poderem ultrapassar os limites de nossos quintais.
Por vezes, os galináceos escapam da faca no pescoço preparadas por nossas avós. Por vezes, fogem para o quintal do vizinho desesperados, mas cientes de que, se não caírem indefesos no bafo da raposa, outros predadores já estarão dispostos a se fartarem de carne de sua carne, inclusive, com fortes rajadas. Muitos cacarejantes reunidos sonham em se sentirem mais fortes. Para nós, isto se traduz em nada mais, nada menos, que uma granja. Por mais que tentem, estas aves não podem fugir do seu cravado destino existencial: servir de alimento para os seus predadores.
Ovípara, bípede, galinácea, cacarejante e com um cérebro que faz jus ao argumento daqueles que ainda insistem em acreditar que o destino destas aves neste mundo pode ser diferente. Pois quem partilha a tradição mineira sabe muito bem que, aos domingos, é dia de galináceos na panela.
Parabéns Mineirão, há 50 anos nosso caldeirão predileto para fazer aquilo que aprendemos desde a infância com nossas avós: decapitar, depenar, cozinhar e devorar galináceos. E ainda jogar os ossos para os cachorros. Que destino, nada sobra destas aves!

Cruzeirão do Povão.
Geovano Chaves
Setembro de 2015.